terça-feira, 31 de março de 2020

A REGIÃO METROPOLITANA DE MARINGÁ (RMM) E A EPIDEMIA DE CORONAVIRUS (COV19).


NOTA TÉCNICA AOS PREFEITOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE MARINGÁ-PR
Maringá-PR, 31 de março de 2020.

Até o presente momento, a grave crise da pandemia do coronavírus que afeta o mundo, tem sido dimensionada através de relatórios médicos, principalmente, dos óbitos e contaminados por cidades.
Ocorre, que observada a distribuição geográfica desses fatos, podemos verificar que eles se concentram em regiões geográficas ou aglomerações urbanas, não exatamente em cidades, como se estas fossem ilhas. A questão é que pelos dados que dispomos, parece que quando se contam os primeiros casos de coronavirus, a população ou agentes públicos consideram, somente, o tamanho da população da cidade, porém, à medida que a epidemia avança é o tamanho da população da região metropolitana que determinará a magnitude dos efeitos.
Veja-se que se fala da cidade de Milan, como se os efeitos devastadores fossem somente nessa cidade, quando na verdade, os efeitos estão sendo na região metropolitana de Milão, com especial destaque em Bergamo, que forma parte da aglomeração urbana em torno da capital metropolitana da região da Lombardia.
Do mesmo modo, no caso de Wuhan, se trata de uma região metropolitana, altamente conurbada, com mais de 10.000.000 de habitantes, cuja capital é um importante centro de transporte, com dezenas de ferrovias, estradas e rodovias que percorrem a cidade e se conectam com outras grandes cidades do entorno.
Assim, com um alto fluxo permanente dos movimentos pendulares, bem como de contiguidade entre as manchas urbanas. No caso de Madrid e Barcelona, também se verifica que se trata de uma problemática de caráter regional e não de fatos vinculados, exclusivamente, a essas cidades.
Veja-se que um dos aspectos da globalização, além das redes de conexões a escala planetária, foi também o intenso processo de regionalização, ou seja, o desenvolvimento de centros urbanos especializados seja em comércios e serviços, com caráteres metropolitanos; isso, também, a escala global.
Ainda que seja correto entender, que tal processo de metropolização era uma tendência, a mesma foi fortemente intensificada nos últimos 20 anos, produto, de uma maior concentração de estruturas econômicas, notadamente, de tecnologia, educação e saúde, além da potencialização das sinergias locais.
Nesse contexto, a questão mais recente, que estamos observando, é a espacialização dos casos do coronavírus em Nova York. Novamente, pelos dados disponíveis, não se trata da cidade, mas da região metropolitana, na qual operam dinamicamente mais de 10.000.000 de pessoas, e configura junto com a região metropolitana de Washington a megalópole conhecida como “BosWash” com mais de 49.000.000 de pessoas sendo a mais importante região geoeconômica dos Estados Unidos, com uma densidade populacional de 359 pessoas por quilômetro quadrado.
Assim, quando se analisa a expansão do coronavirus para o caso da região de Nova York, os dados mostram que há uma taxa de crescimento exponencial, ou seja, um número crescente de pessoas vão ficar doentes.
Portanto, os dados mais relevantes, para análise territorial da pandemia, estão associados com a taxa de crescimento da doença, número de casos, densidade da população na região afetada e população mais vulnerável ao vírus, e não somente por dados de cidades isoladas, mas por região metropolitana, ou território de aglomeração, haja vista que se trata de uma contaminação que ocorre segundo o Ministério da Saúde, por transmissão de uma pessoa doente para outra ou por contato próximo por meio de: “o toque do aperto de mão é a principal forma de contágio; Gotículas de saliva; Espirro; Tosse; Catarro; Objetos ou superfícies contaminadas como celulares, mesas, maçanetas, brinquedos e teclados de computador etc.” Sendo justamente, essas as condições estimuladas no processo de movimento pendular de caráter regional.      
Destes fatos decorre a nossa preocupação social, técnica e científica a respeito do cenário da evolução de uma crise sanitária na Região Metropolitana de Maringá (RMM), uma vez que se trata de uma região composta por 26 municípios, segundo a Estimativa Populacional do IBGE (2019), com mais de 820 mil moradores, sendo Maringá a sede, onde se concentram 85% da economia da região e 80% dos postos de trabalho.
Isso faz com que ocorra um intenso movimento pendular, com 95.000 (noventa e cinco) mil pessoas saindo dos municípios onde residem, para trabalhar ou estudar em outro. Destas, mais de 70.000 (setenta) mil pessoas vêm todos os dias para Maringá e o restante, 25.000 (vinte e cinco) mil circula entre o seu município de moradia para os demais da região, em especial para Sarandi que recebe 3.500 pessoas e, Jandaia do Sul, 3.000 mil pessoas de outros municípios diariamente.  
Outra preocupação central no âmbito regional, em relação ao Covid 19, cuja informação pode subsidiar o enfrentamento da epidemia, diz respeito ao tamanho da população de idosos. O Censo de 2010 mostrou que havia 89.032 pessoas idosas, o que significava 12,4% do total populacional da RMM. Ao analisar os dados da Estimativa do IBGE para 2019, verifica-se um aumento de quase 14%, que resulta numa população idosa atual de 101.434 pessoas na região, fato que por si já justifica as medidas atuais de isolamento social.
Diante do exposto, entendemos que há uma necessidade urgente para estabelecer uma plataforma institucional de diálogo entre os poderes públicos municipais, integrantes da RMM, como forma de articulação, para o enfrentamento dos efeitos imediatos do Coronavirus, bem como para fins de projetar soluções conjuntas ao desenvolvimento econômico e social após a pandemia.

Dra. Ana Lúcia Rodrigues
Dr. Jorge Ulises Guerra Villalobos
Coordenadora do Observatório das Metrópoles
Núcleo UEM/Maringá
Pesquisador do Observatório das Metrópoles
Núcleo UEM/Maringá